sexta-feira, 23 de março de 2012

Geógrafo teme agravamento da desertificação do país com fecho de serviços públicos


O especialista em despovoamento da geografia humana Francisco Diniz afirmou hoje que a pretensão do Governo de "melhorar a oferta dos serviços públicos" no país irá contribuir para a desertificação do interior do país.

Foto: Fernando Peneiras
"Vai contribuir para uma sangria mais gravosa do tecido humano e desvitalização do interior para as pessoas que lá permaneçam porque não estão em idade ativa", disse à Lusa.
O professor na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) falava à Lusa na sequência do anúncio do Governo, de que criou uma Equipa para os Assuntos do Território (EAT) para apresentar propostas que melhorem a "oferta de serviços públicos".
Esta equipa, prevista na resolução que aprova uma estratégia de coesão territorial, económica e social, tem por missão "fazer o levantamento e mapeamento sistemático dos equipamentos coletivos integrantes da rede pública, em todos os domínios e áreas sectoriais do mercado de bens e serviços públicos".
Dentro de dois meses, a EAT "terá de propor reformas que eliminem redundâncias e ineficiências, e potenciem uma melhor e mais racional oferta de serviços públicos", segundo o Governo.
Para Francisco Dinis, o problema devia "pôr-se ao contrário: deviam criar condições para que as pessoas que estão no litoral fossem para o interior e não a racionalização dos serviços".
O professor sublinhou que "o que está em jogo é a descoesão territorial" e alertou que, em termos de competitividade, "tratar os territórios como empresas é muito perigoso e não é o caminho a seguir para a coesão social como o Governo pretende".
"Existirem 199 municípios com perda de população é que devia de ser o problema a atacar e não criar condições para se tornar pior do que já está", acrescentou.
De acordo com o Governo, a EAT vai ainda fazer uma "análise e identificação de eventuais áreas de sobreposição de atividades e competências" dos serviços desconcentrados do Estado e da administração local, "propor reformas que eliminem redundâncias e ineficiências" e melhorem uma "racional oferta de serviços públicos".
O Executivo justifica esta iniciativa com o facto de os Censos de 2011 confirmarem a "tendência de décadas no sentido da deslocação das populações dos territórios do interior para os territórios do litoral" e que há uma "redução significativa da população residente em 199 municípios".

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