Risco de tumultos e barricadas. Governo já prepara
plano B
O executivo teme o pior e actua em
conformidade: já há plano anti-contestação social
A presidência do Conselho de
Ministros está a preparar um plano de contingência para fazer frente a
possíveis tumultos na sequência do agravamento da crise económica, soube o i.
Os riscos de uma explosão social que possa vir a assumir contornos violentos
estão a ser medidos pelo governo, numa altura em que a maioria dos observadores
admite que a contestação pode disparar, à semelhança do que aconteceu na
Grécia.
O plano de contingência contempla o risco de alguns ministérios –
nomeadamente os mais sensíveis numa época de austeridade, como as Finanças e a
Economia ou a própria residência oficial do primeiro-ministro – poderem vir a
ser barricados por manifestantes.
A hipótese de que venha a ser impedida a entrada dos funcionários
e membros do governo nas sedes dos ministérios também está considerada no plano
de contingência do governo. Se isso vier a acontecer, o executivo está a
arranjar planos B para que o trabalho normal do governo possa decorrer em outro
lugar, sem prejuízo do trabalho normal.
O governo não quer ser apanhado de surpresa relativamente a
possíveis tumultos e está a preparar-se para a possibilidade de cortes de
estradas e dos acessos a Lisboa, Porto e Braga. Os riscos estão a ser avaliados
em função dos relatórios que têm sido feitos pela polícia e pelos serviços de
informações. A existência de uma rede de telecomunicações alternativa aos
telemóveis utilizados habitualmente pelos membros do governo e restante pessoal
dos gabinetes também está contemplado no plano de contingência.
O risco de tumultos em Portugal, à semelhança dos que ocorreram na
Grécia, foi admitido pelo primeiro-ministro logo no princípio de Setembro, na
rentrée do PSD realizada na Universidade de Verão, em Castelo de Vide.
Horas antes, em Campo Maior, Passos Coelho já tinha falado na
possibilidade de motins. "Em Portugal, há direito de manifestação, há
direito à greve. São direitos que estão consagrados na Constituição e que têm
merecido consenso alargado em Portugal", disse Passos Coelho, avisando:
"Nós não confundiremos o exercício dessas liberdades com aqueles que
pensam que podem incendiar as ruas e ajudar a queimar Portugal".
Na sua intervenção na Universidade de Verão do PSD, Passos Coelho
admitiu que "pode haver quem se entusiasme com as redes sociais e com
aquilo que vê lá fora, esperando trazer o tumulto para as ruas de
Portugal". "Nunca iremos por aí", afirmou o primeiro-ministro,
numa espécie de aviso prévio "àqueles que pensam que podem agitar as
coisas de modo a transformar o período que estamos a viver numa guerra com o
governo", quando o que existe é "uma guerra contra o atraso, a dívida
e o desperdício".
Num estudo feito pela Organização Internacional de Trabalho (OIT),
Portugal estava entre os países do mundo com risco mais elevado de
"tumultos sociais", em consequência dos sacrifícios impostos pela
crise e pelo desemprego. Além de Portugal, há outros seis países europeus com
risco elevado: Grécia, Espanha, França, Estónia, Eslovénia e Irlanda. Em todos
estes países, mais de 70% dos inquiridos pela Organização Internacional do
Trabalho estão descontentes com a situação laboral.
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