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Retirar a louça do forno
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Os oleiros
contam-se pelos dedos de uma mão e já só quatro trabalham. É ofício árduo e
os jovens têm outras ambições.
A tradição na aldeia é intrínseca à terra. O barro, proveniente de
localidades próximas como Telheira ou Parada de Cunhos, ganhou forma e beleza
nas mãos dos aldeãos. Em Bisalhães, a olaria é uma arte ancestral. De geração
em geração, transmitiu-se o conhecimento do material e do equilíbrio das
formas. As louças negras são hoje um estandarte da localidade e do artesanato
de Vila Real.
Os mistérios da olaria
Os oleiros de Bisalhães contam-se pelos dedos de uma mão e só quatro
trabalham o barro. É ofício árduo e os jovens têm outras ambições. Esta arte
floresceu em Lordelo, estendeu-se à aldeia de Mondrões e, percorrendo colinas
e vales, chegou a Bisalhães.
Os pelões de barro também já não vêm da Telheira, onde são de melhor
qualidade – a fábrica de cerâmica faliu e pararam a extracção –, mas de
Chaves. A transformação da pedra flaviense em barro começa num alguidar,
coloca-se o pelão e, com a ajuda de um pico de madeira, vai-se moendo
lentamente o barro até ficar reduzido a pó.
Após a moagem, o pó argiloso tem de ser peneirado, para retirar todas as
impurezas, variando a escolha das peneiras de acordo com os objectos a
fabricar. O crivo (peneira com rede de malhas largas) aplica-se na produção
de artigos de utilidade (louça churra) e a peneira com rede fina no fabrico
de peças de decoração.
Mistura-se então um pouco de água à argila e, “amassa-se tudo muito bem” para
ligar convenientemente os dois componentes. O barro é depois guardado em
sacos de plástico, de forma a manter um bom estado de conservação, e vai
sendo utilizado consoante as necessidades. As mãos dos oleiros fazem o resto.
A cor da louça
A roda de madeira inicia, ao toque do pé do oleiro, um lento rodopiar,
amassando um bocado de barro. “Tem de estar todo igual. A água deve humedecer
a argila de forma homogénea”. A roda continua a girar. Coloca o barro no
centro e os seus dedos oferecem forma à terra argilosa. Em poucos minutos, um
vaso de argolas nasce do centro da velha roda. Agora deve secar.
“Entre o barro seco e meio verde, desenha-se com um gogo (pedra lisa do rio)
pequenas flores nas louças. Para dar um toque de graça...”. Os motivos
decorativos destacam-se pelo brilho, que o gogo raspado no barro dá à peça.
Uma das singularidades da olaria de Bisalhães é a cor negra das louças. O segredo
está no forno e nos métodos de cozedura. “O forno é um buraco aberto na
terra. Colocam-se as peças numa grelha e introduz-se na abertura. Por baixo,
fica a lenha a crepitar. Para que os artigos cozam totalmente, põe-se, por
cima da louça, uma camada de rama de pinheiro verde a arder.”
Para impedir a libertação de fumos, o forno artesanal é abafado com uma
camada de caruma, musgo e terra. Aqui reside o segredo. “Se não se abafasse,
a louça ficava vermelha”. Para o sucesso da cozedura são necessárias cerca de
24 horas. As características da louça de Bisalhães permitem restabelecer os
sabores tradicionais da cozinha portuguesa, na medida em que os seus
materiais naturais (nem se utiliza o vidrado nem a pintura) não interferem no
paladar dos alimentos.
O segredo da bilha
As peças – formas herdadas de gerações – contam um pouco da história e dos
hábitos dos habitantes do concelho. Da aldeia de Bisalhães continuam, pois, a
sair as louças churras para o forno, a assadeira, o alguidar para o arroz e
os tachos, e as decorativas, como as bilhas de segredo e de rosca, os vasos
de argolas, as pichorras para beber vinho, etc.
A peça mais curiosa é, sem dúvida, a bilha de segredo. A pequena cântara de
barro esconde um truque para apanhar (molhar) os desprevenidos. A bilha
apresenta um pequeno orifício na base superior, local onde devem pousar os
lábios, mas possui uma série de aberturas, por onde pode passar a água. Para
beber tranquilamente, ou seja, sem ficar com a camisa encharcada, é
necessário tapar um furo escondido por trás da pega e sorver o líquido pelo
buraco superior.
In site da Câmara Municipal de Vila Real
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