sábado, 11 de fevereiro de 2012

Olaria Negra de Bisalhães / Trás-os-Montes


Retirar a louça do forno
Os oleiros contam-se pelos dedos de uma mão e já só quatro trabalham. É ofício árduo e os jovens têm outras ambições.

A tradição na aldeia é intrínseca à terra. O barro, proveniente de localidades próximas como Telheira ou Parada de Cunhos, ganhou forma e beleza nas mãos dos aldeãos. Em Bisalhães, a olaria é uma arte ancestral. De geração em geração, transmitiu-se o conhecimento do material e do equilíbrio das formas. As louças negras são hoje um estandarte da localidade e do artesanato de Vila Real.

Os mistérios da olaria
Os oleiros de Bisalhães contam-se pelos dedos de uma mão e só quatro trabalham o barro. É ofício árduo e os jovens têm outras ambições. Esta arte floresceu em Lordelo, estendeu-se à aldeia de Mondrões e, percorrendo colinas e vales, chegou a Bisalhães.

Os pelões de barro também já não vêm da Telheira, onde são de melhor qualidade – a fábrica de cerâmica faliu e pararam a extracção –, mas de Chaves. A transformação da pedra flaviense em barro começa num alguidar, coloca-se o pelão e, com a ajuda de um pico de madeira, vai-se moendo lentamente o barro até ficar reduzido a pó.
Após a moagem, o pó argiloso tem de ser peneirado, para retirar todas as impurezas, variando a escolha das peneiras de acordo com os objectos a fabricar. O crivo (peneira com rede de malhas largas) aplica-se na produção de artigos de utilidade (louça churra) e a peneira com rede fina no fabrico de peças de decoração.

Mistura-se então um pouco de água à argila e, “amassa-se tudo muito bem” para ligar convenientemente os dois componentes. O barro é depois guardado em sacos de plástico, de forma a manter um bom estado de conservação, e vai sendo utilizado consoante as necessidades. As mãos dos oleiros fazem o resto.

A cor da louça
A roda de madeira inicia, ao toque do pé do oleiro, um lento rodopiar, amassando um bocado de barro. “Tem de estar todo igual. A água deve humedecer a argila de forma homogénea”. A roda continua a girar. Coloca o barro no centro e os seus dedos oferecem forma à terra argilosa. Em poucos minutos, um vaso de argolas nasce do centro da velha roda. Agora deve secar.

“Entre o barro seco e meio verde, desenha-se com um gogo (pedra lisa do rio) pequenas flores nas louças. Para dar um toque de graça...”. Os motivos decorativos destacam-se pelo brilho, que o gogo raspado no barro dá à peça.

Uma das singularidades da olaria de Bisalhães é a cor negra das louças. O segredo está no forno e nos métodos de cozedura. “O forno é um buraco aberto na terra. Colocam-se as peças numa grelha e introduz-se na abertura. Por baixo, fica a lenha a crepitar. Para que os artigos cozam totalmente, põe-se, por cima da louça, uma camada de rama de pinheiro verde a arder.”
Para impedir a libertação de fumos, o forno artesanal é abafado com uma camada de caruma, musgo e terra. Aqui reside o segredo. “Se não se abafasse, a louça ficava vermelha”. Para o sucesso da cozedura são necessárias cerca de 24 horas. As características da louça de Bisalhães permitem restabelecer os sabores tradicionais da cozinha portuguesa, na medida em que os seus materiais naturais (nem se utiliza o vidrado nem a pintura) não interferem no paladar dos alimentos.

O segredo da bilha
As peças – formas herdadas de gerações – contam um pouco da história e dos hábitos dos habitantes do concelho. Da aldeia de Bisalhães continuam, pois, a sair as louças churras para o forno, a assadeira, o alguidar para o arroz e os tachos, e as decorativas, como as bilhas de segredo e de rosca, os vasos de argolas, as pichorras para beber vinho, etc.

A peça mais curiosa é, sem dúvida, a bilha de segredo. A pequena cântara de barro esconde um truque para apanhar (molhar) os desprevenidos. A bilha apresenta um pequeno orifício na base superior, local onde devem pousar os lábios, mas possui uma série de aberturas, por onde pode passar a água. Para beber tranquilamente, ou seja, sem ficar com a camisa encharcada, é necessário tapar um furo escondido por trás da pega e sorver o líquido pelo buraco superior.

In site da Câmara Municipal de Vila Real
 
«Até à construção do IP4, um pouco antes de chegar a Vila Real, havia tendas de louça preta a ladear a estrada. O viajante, atraído pela cor das peças, parava e o negócio lá se ia desenvolvendo. Com a a abertura da via rápida, as tendas foram transferidas para pequenos pavilhões, à entrada da cidade. Nalguns, pode-se admirar o trabalho do oleiro, na azáfama de elaborar as belas peças que exibe penduradas por dentro e por fora da loja

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