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Foto: Fernando Peneiras |
Apesar do distrito de Vila Real ser constituído por
zonas, tão distintas entre si, como as Terras de Basto, o Barroso, o Alto
Tâmega, o Douro, Trás-os-Montes,
etc., a gastronomia é
sempre substancial, na directa proporção com a altura das serras, a largueza
de horizontes e a dureza das fainas agrícolas.
O facto do esforço físico dispendido pelos
trabalhadores agrícolas exigir mais alimento do que o esforço intelectual,
aliado ao conhecimento, de «experiência feito», de que o “ar do campo -
particularmente o da montanha - abre o apetite”, justifica bem
que existam por toda a Região os “pratos de resistência”, magníficos na
quantidade, na variedade e na qualidade dos seus ingredientes.
É, sem dúvida, uma cozinha antiga e sábia, temperada
a preceito, substancial, completa e saudável, que aumenta as saudades
da Região a quem, algum dia, teve o privilégio de a experimentar.
As «Carnes»,
os «Peixes», os «Enchidos»
caseiros acompanhados com Pão de Centeio ou Broa de Milho, a que,
forçosamente, se devem seguir os bolos, os pastéis e os doces de travessa
(herança de antigas tradições conventuais), exigem vinhos adequados e que não
desmereçam: desde os frescos Vinhos
Verdes e os sólidos Vinhos
de Mesa do Douro, passando pelos refrescantes Rosés, pelo
aromático Moscatel de Favaios, pela Jeropiga de Valpaços ou de Chaves, para
terminar nos Vinhos Finos ou
Generosos da Região
do Douro (verdadeiras "jóias da coroa" que do Porto
apenas têm o nome).
“(...) à
trindade tradicional do reino: os presuntos, as alheiras, os salpicões.
Por alturas
do Natal, começa a matança. Ao romper da manhã, a paz de cada povoado é
subitamente alarmada. Um grito esfaqueado irrompe do silêncio. Dias depois
desmancha-se a bizarma, e um pálio de fumeiro cobre a lareira.
Quem não
comeu ainda desses majares ensacados, prove...”
(Miguel Torga, in Portugal)
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