Pesquisa e Fotos de Almiro Moreira
Residente em Matosinhos, natural da freguesia de Sedielos, Peso da Régua.
Um enamorado pela cultura das suas Raízes.
Da-nos mais a conhecer a vida e obra de:
António
Guedes de Amorim nasceu no lugar de Sá, freguesia de Sedielos, concelho do Peso
da Régua, em 26 de Outubro de 1901. «Sou filho e neto de cavadores e tenho
séculos de enxadas atrás de mim… Como brasão, honra-me e chega.» – diz numa
entrevista a Lopes de Oliveira.
É
um bom exemplo de escritor que se fez a si mesmo, contando apenas com o seu
talento e persistência, pois as condições económicas da família não lhe
permitiram levar a escolaridade além do ensino primário, que concluiu na Régua.
Aos oito anos, ainda na escola, manifestou-se a sua vocação para a escrita, já
que foi nessa altura responsável pelo pequeno jornal de parede da escola. Já
então, nesse jornal de parede, defendia os pobres trabalhadores rurais do
Douro.
Terminado
o ensino primário, com onze anos apenas empregou-se num estabelecimento de
fazendas, ainda na Régua, frequentando à noite aulas de um professor que lhe
ensinou algo mais. Depois de uma breve passagem por Penafiel, mudou-se aos
dezasseis anos para o Porto, onde encontrou um emprego no mesmo ramo de
comércio. Mas aqui, dando largas à vocação da sua vida, foi desde logo
começando a colaborar em algumas publicações e a escrever textos para récitas
académicas. Pouco depois vemo-lo a colaborar assiduamente em diversos jornais
do Porto (entre eles, A Tribuna e o Jornal de Notícias) e também
de Lisboa, África e Brasil. Esta intensa actividade jornalística passou a ser a
sua profissão. Até final da vida, publicaria muitas centenas, senão milhares,
de crónicas em inúmeras publicações regulares. Chegavam a aparecer diariamente,
nos diversos jornais, quatro e cinco artigos de sua autoria. Pelos seus
próprios cálculos, escrevia por dia umas cinco mil palavras.
Com
pouco mais de vinte anos, fixou-se em Lisboa, onde prosseguiu e intensificou a
actividade jornalística, a que somava agora a criação literária propriamente
dita: romances, novelas e contos.
Guedes de Amorim
encontra os temas para a sua ficção não apenas no mundo rural, que aliás deixou
muito novo, mas também na grande cidade. Em ambos os casos se movimenta com
muita desenvoltura, privilegiando os temas sombrios e os dramas e conflitos
sociais. Numa primeira fase, a sua literatura mostra influências do
naturalismo, sobretudo na escolha de temas e ambientes urbanos mais ou menos mórbidos
e nocturnos.
A
partir de 1939, ano da publicação de Aldeia das Águias, volta-se
preferentemente para os temas rurais, aproximando-se então dos cânones do
neo-realismo, tal a preocupação com a sorte dos mais pobres e desprotegidos e
com os conflitos sociais. Ele próprio estava então próximo, ideologicamente, do
marxismo. «Eu não sei falsificar a vida!», diz Guedes de Amorim na entrevista
referida. «Depois, os meus livros são espelhos dos que vêm de baixo, dos que
carregam hereditariedades de infortúnio e não viram ainda o sol da ventura!...
Eu não sei atraiçoar os que sofrem.» Escreve então alternadamente sobre temas
urbanos e rurais, mas sempre nessa perspectiva de intervenção social.
Mas,
a partir de certo momento, após a leitura de uma obra sobre São Francisco de
Assis, assumiu uma postura intelectual próxima do cristianismo. Ele próprio
conta, no longo preâmbulo à sua biografia de São Francisco, o episódio
simbólico de como trocou, num alfarrabista, o seu exemplar de O Capital
pelas Florinhas do glorioso São Francisco e seus frades, que nessa mesma
noite de insónia leu, e com a leitura encontrou «um novo caminho, que me dava
outra, completa e definitiva dimensão do Homem».
Iniciou
então nova etapa da sua carreira de escritor. Escreveu então duas obras que
reflectem a sua nova atitude: Francisco de Assis, Renovador da Humanidade
(1960) e Jesus passou por aqui (1963). E a visão do mundo segundo uma
óptica franciscana nunca mais o abandonou. Na morte, que ocorreu em Lisboa a 11
de Março de 1979, quis ir amortalhado com o hábito da Ordem de São Francisco.
Como
obras da ruralidade, são de destacar os livros de contos Os barcos descem o
rio (1945), A máscara e o destino (1951) e Caminhos fechados
(1952), e os romances Aldeia das Águias (1939) e Casa de Judas
(1953).
Guedes
de Amorim recebeu, entre outras, duas importantes consagrações: a Academia das
Ciências de Lisboa conferiu-lhe o Prémio Ricardo Malheiros, em 1939, pelo
romance Aldeia das Águias e o Pen Club do Brasil atribuiu-lhe o Prémio
Cervantes pela obra Jesus passou por aqui, entregue em 1964 .
Em
26 de Outubro de 2001, assinalando o centenário do seu nascimento, foi prestada
uma homenagem a Guedes de Amorim, com a colocação de uma lápide na casa onde
nasceu e uma sessão cultural, na Régua.
O
jornalista Guedes de Amorim escreveu um número enorme de crónicas, nas quais
certamente haverá alusões mais ou menos detalhadas aos concelhos de Lamego,
Santa Marta de Penaguião, Mesão Frio e Vila Real, concelhos que, juntamente com
o do Peso da Régua, onde nasceu, constituíam o seu universo da juventude. É um
trabalho de investigação que está por fazer e será certamente um desafio
estimulante para quem se abalance a aceitá-lo.
Nas
suas obras de ficção, um pouco ao acaso, foi possível recensear diversas
referências interessantes a Vila Real, algumas das quais confirmam aliás certos
lugares comuns vila-realenses, que se encontram igualmente presentes na obra de
outros escritores.
No
livro de contos A máscara e o destino, tenha-se em consideração que a
figura de Aninhas, no conto homónimo, viera para Vila Real fazer o Curso do
Magistério Primário. A presença desde muito cedo de médicos especialistas na
sede do distrito é lembrada no conto «Comboio de Vila Real» (sem dúvida, o
comboio da Linha do Vale do Corgo), que motiva na personagem principal a
evocação das viagens reais naquela mesma linha para as estâncias termais do
Alto Tâmega.
No
romance Casa de Judas, o autor recorda o combate de Parada de Cunhos e a
ocupação de Vila Real pelas tropas trauliteiras.
No romance Aldeia das Águias, Henrique e Eduardo são alunos do
Liceu de Vila Real. Estavam hospedados em casa dos Samardãs, faziam longos
passeios na Rua Direita, iam até à estação do caminho-de-ferro à chegada do
comboio correio, davam passeios na Avenida Carvalho Araújo, onde um deles,
Eduardo, fixava com interesse a casa onde, segundo a tradição, nasceu Diogo
Cão. Há também a referência aos capitalistas usurários de Vila Real e uma
magnífica descrição do passeio de trás do cemitério.
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