O último a cair foi o do primeiro-ministro espanhol José Luis
Rodriguez Zapatero (socialista), derrotado nas eleições parlamentares desse
domingo pelo Partido Popular (conservador), liderado por Mariano Rajoy.
Insatisfeitos com a maneira como os governos
administram a crise, os eleitores foram às urnas e mudaram os governos de
Islândia, Dinamarca, Grécia, Grã-Bretanha, Holanda.
Fora das urnas, a pressão recaiu sobre os
governos centrais de Grécia e Itália, que caíram neste ano em pleno mandato,
sendo substituídos por tecnocratas.
A situação actual da política europeia foi
definida pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, como “resultado da
anarquia que reinou nos mercados financeiros”.
O desabafo surgiu depois da derrota nas
eleições regionais de 2010. “O capitalismo financeiro nos levou ao desastre. A
crise teve efeitos devastadores no mercado de trabalho”, disse Sarkozy.
Analistas apostam que a França, que terá
eleições nacionais em 2012, pode ser a próxima a mudar. As pesquisas de
intenção de voto são lideradas pelo socialista François Hollande, rival de
Sarkozy na disputa.
‘Maior sensibilidade’
Desde a chegada da crise na Europa, os
governos tiveram de enfrentar tanto a pressão dos mercados financeiros quanto a
reacção da população.
Segundo relatório do Conselho Europeu (órgão
oficial da União Europeia) de 2010, “os sinais de protestos políticos obrigam
os governos a pesar com grande sensibilidade as soluções para administrar a
crise”.
Estas soluções parecem ter sido pouco aceitas
pelos eleitores. Segundo analistas, os cidadãos rejeitam os pacotes económicos
austeros recomendados pelos mercados e aplicados pelos governos, tendo como
resultado a insatisfação declarada nas urnas.
Com a vitória dos conservadores, analistas
espanhóis questionam: a crise elegeu os conservadores ou castigou os
socialistas? Qual governo sob tanta pressão económica pode resistir a uma
eleição? E o que o futuro primeiro-ministro Mariano Rajoy pode fazer para
contornar a crise?
A maioria afirma que a questão económica foi
determinante para a derrota dos socialistas. Para especialistas, o governo de
Zapatero seria castigado pela administração da crise, fosse quem fosse o
candidato rival.
No caso espanhol, a penalização se transformou
em 30% de abstenções e na partilha de votos aos partidos minoritários, que
quadruplicaram seus resultados. O Partido Popular obteve maioria absoluta em
todas as regiões, excepto Catalunha e País Basco, dominados por grupos locais
separatistas.
Segundo a mídia espanhola, um dos
coordenadores de campanha do Partido Popular, o sociólogo Pedro Arriola, disse
nesse domingo, na sede do partido, que, “nas eleições, os perdedores são sempre
os governos. Não é a oposição a que ganha”.
Maioria absoluta
Nesse quadro de crise, nem mesmo ter a maioria
absoluta no Parlamento é garantia de tranquilidade para os governos – é o que
acreditam analistas e líderes políticos, como o ex-primeiro-ministro Felipe
González, o mais votado da história espanhola (obteve maioria com 202 dos 350
deputados).
-Berlusconi tinha maioria absoluta e caiu.
Papandreou (ex-primeiro-ministro da Grécia) tinha maioria absoluta e caiu. Isso
hoje é uma grande coisa, claro. Mas não representa uma garantia de ser
intocável com o temporal que está caindo-, afirmou González.
A maioria obtida por Rajoy no Parlamento é tão
significativa (186 deputados) que ele poderá governar praticamente sem precisar
negociar com a oposição.
As medidas a serem tomadas contra a crise são
precisamente a principal incógnita, até para o eleitorado conservador. O
candidato eleito nunca deixou claro o programa com o qual pretende tirar o país
do vermelho.
A pouca clareza nas propostas rendeu críticas
a Rajoy, dentro e fora da Espanha. No
entanto, ele parece consciente de que os mercados vão pedir atitudes. Em seu
primeiro discurso após a vitória, ele pediu unidade a todos os espanhóis e
avisou que “não haverá milagres”. Ele acrescentou que milagres não eram
promessa de campanha”.
As respostas devem chegar às vésperas do
Natal. Em 13 de Dezembro, o Congresso convocará os deputados eleitos para a
constituir o novo Parlamento e, então, nomear Rajoy como primeiro-ministro, que
poderá assumir uma semana depois, ou no início de Janeiro.
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